No meu artigo de hoje, no Blog do Totonho, falo sobre o significado de religião, sobre o que seria um verdadeiro religioso e, dentro desse contexto, falo também sobre Papa Francisco:
A palavra "religião" origina-se do latim "religare", que significa religar. Daí o entendimento de que religião é um instrumento de reconexão com o Sagrado, porém não é o único instrumento. Há pessoas que conseguem transcender, vibrar em sintonia mais elevada e aproximar-se de Deus, por exemplo, por meio da natureza, como os povos originários. Há outros que nunca foram religiosos, entretanto possuem profunda conexão com seu entorno, com sua coletividade, ou seja, com o seu próximo, e fazem de suas vidas um caminho ético, empático e solidário, estando, a meu ver, muito mais conectados com Deus do que muitos que se dizem religiosos. E há os religiosos plenamente conscientes da essência do que seja a religião e que buscam fazer de seu proceder uma constante oportunidade de religação com Deus.
Entre esses últimos é que percebo a figura de Papa Francisco, um papa que mostrou-se bastante fiel ao ensinamento do Cristo e, justamente por isso, foi amado por muitos mas também, infelizmente, odiado por aqueles que optaram por agarrar-se a uma visão arcaica do conteúdo religioso e que reavivam a idade média nos dias atuais. Os que se dizem religiosos, mas que usam a religião apenas como meio de obter seus interesses de poder e de domínio.
A palavra de Papa Francisco foi muito além do catolicismo, pois os valores que pregava não se circunscreviam a uma só religião. Ele recebeu religiosos dos mais diversos credos. Corajoso, sempre se posicionava com uma nítida preocupação de semear valores que se chocam com o individualismo, com o consumismo e com a ânsia de domínio tão presentes em nossa sociedade. Não hesitava em defender os oprimidos pela guerra, pela fome e pelo preconceito de todos os típos; posicionou-se contra o que chamou de "economia que mata", impulsionando a "Economia de Francisco", em que o sistema financeiro deve servir, ao invés de governar. Escreveu a Encíclica Laudato si', sobre o cuidado da casa comum, em que ele abordou diversos aspectos essenciais para a preservação de nosso planeta; alertou sobre o tratamento desumano e notoriamente exterminatório contra o povo palestino, enfim, foi um papa engajado, atuante e que nunca se omitia.
Infelizmente, perdemos um verdadeiro religioso. Acredito que ele tenha sido um destes seres de luz que vêm à Terra de tempos em tempos para impulsionar a evolução da humanidade. Para homenageá-lo, destaco algumas de suas frases e compartilho um poema de minha autoria:
"Mas não pode subtrair-se à centralidade dos pobres no Evangelho. E isto não é comunismo, é puro Evangelho! Não é o Papa, mas Jesus, que os coloca no centro, nesse lugar. É uma questão da nossa fé e não pode ser negociada. Se não aceitardes isto, não sois cristãos". - Papa Francisco, setembro de 2024.
"Enquanto não se resolverem radicalmente os problemas dos pobres, renunciando à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira, e atacando as causas estruturais da iniquidade, não se resolverão os problemas do mundo e, em última análise, problema algum. A iniquidade é a raiz dos males sociais". - Papa Francisco.
Papa Francisco
Não apenas um papa,
Um líder da humanidade.
Não apenas um religioso,
Um discípulo de Cristo.
A omissão silenciosa
Nunca foi a sua fala.
Mas sim a palavra certa
Em um momento exato.
Pedras lhe atiraram
Tal fazem aos que a luz semeiam.
Ele, contudo, não as recolheu
Deixou-as apenas ir.
Aos arrogantes do poder
Exemplificou a fé.
Teve Cristo em atitudes
E aliou-se ao Amor.
Incansável obreiro
Da Crística seara
Emissário de luz
Para trevosos dias.
Francisco não foi,
Francisco vive.
Ele também será eterno
Em cada gesto de amor
E em cada gota de paz.
Luciana G. Rugani
Escritora e poeta
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