Hoje, no meu artigo do Blog do Totonho, falo sobre as generalizações, tão usuais na atualidade:
Ultimamente, algo que tenho observado é a presença farta das generalizações nos diálogos, nas entrevistas e nas redes sociais. Frases como: "tudo está mesmo de mal a pior", "tudo está na inércia", ou até mesmo aquelas postagens de redes sociais contendo desqualificação geral de partido político ou de instituições, como o Congresso Nacional ou o Supremo Tribunal Federal, são exemplos de um tipo de raciocínio que busca mostrar conhecimento a partir da extensão, para todo um conjunto, da análise de algo específico. Esse raciocínio é muito utilizado para espalhar uma falsa noção de que tudo está perdido e pode, num átimo, vir a melhorar. É muito comum como "pano de fundo" em falas que tenham interesse em fomentar algum direcionamento específico. E, infelizmente, muitas pessoas bem intencionadas, e ansiosas por uma melhora do panorama geral, acabam "mordendo a isca" e caindo na armadilha desse raciocínio. Os antidemocráticos, por exemplo, investem em postagens com julgamento negativo das instituições, como se ninguém ali fosse digno de credibilidade e nada ali funcionasse a contento. Em discursos pré-eleitorais, são frequentes as colocações como se nada funcionasse no poder público. O público espectador, ao aceitar a fala como algo incontestável, torna mais fácil, para aquele que a proferiu, o direcionamento e a manipulação da opinião. Por isso é tão essencial que busquemos conhecer a realidade das situações, que possamos, mesmo enquanto leigos, ter uma visão crítica mais apurada. Desconfiar daquele que a tudo generaliza, que a tudo problematiza para, depois, apontar a sua solução como sendo a mais adequada. Desconfiar daquele que busca espalhar a crença negativa de que "nada funciona", ou de que "tudo está péssimo", como forma de direcionar para si toda a expectativa de melhoria, como se, em suas mãos, um milagre aconteceria e transformaria tudo para melhor.
Governos de caráter autoritário utilizam muito as generalizações. Vemos isso em postagens de adeptos da extrema direita e vimos também na eleição do ex-presidente inominável. Desacreditam instituições, e até pessoas, por meio da generalização. E, a partir de um fato pontual, buscam divulgar a ideia de que determinado setor público não funciona.
Há que ter atenção redobrada para não cair nessas armadilhas, buscar informações, analisar outras hipóteses, observar os interesses ocultos dos envolvidos na questão. Não aceitar generalizações é o primeiro passo para um debate social enriquecedor e com seriedade. Generalizar muitas vezes é também uma maneira de impedir que esse debate aconteça, é como cortar a palavra que esclarece e estabelecer o silêncio que leva de volta à caverna oculta das preferências pessoais.
Um ser só se desenvolve na busca de conhecimento e na análise da diversidade de ideias, e, para isso, é essencial o reconhecimento da realidade de que não há nada que esteja totalmente ruim e nada que não possa melhorar um pouco suas condições. Além disso, é importante falar sobre as questões sem tanta parcialidade, mas com ânimo de construir e de agregar, sem esquecer que a generalização costuma ligar-se à manipulação e ao silenciamento dos debates sociais.
Luciana G. Rugani
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