______________________________________
Após o carnaval, lembrei-me de alguns lances e resolvi escrever um pouco sobre minha reflexão a respeito deles. Em meio a blocos, escolas de samba, bailes e festas, na praia ou simplesmente na tranquilidade de uma piscina de condomínio, sentimos a energia do momento, porém também percebemos alguns lances não tão notórios.
Pude perceber olhares infelizes, disfarçados por sorrisos mecânicos, escondidos em meio a máscaras e brilhos; pude ver milhares de pessoas nas ruas das cidades, como a caminharem unidas. E pensei: quisera tivessem essa mesma união para se indignarem com o desamor, com todas as formas de violência e com a injustiça. Por que não saem juntas a semear amizade, acolhimento e união de fato? Por que essa sinergia de aparente união que há em um bloco não se expressa em campanhas sociais, por exemplo? Por que, na vida real, pós carnaval, os seres voltam a caminhar solitários? Talvez essas percepções sejam a própria resposta, e o carnaval seja apenas um enorme bloco de máscaras e fantasias, em meio ao qual a angústia da proximidade do outro não afugente tanto o ser humano acostumado à proteção de sua individualidade. Talvez as máscaras e fantasias deixem-no mais seguro para disfarçar sua dor e, do outro, se aproximar. Enfim, são somente hipóteses, porém seria muito bom ver essa mesma união em blocos nos momentos de gritantes razões para se indignar, ou em oportunidades para diminuir a dor da fome e da pobreza, ou ainda para acolher o outro, abrindo-se a todas as suas diferenças.
Com base nessa reflexão, compus o seguinte poema:
Carnaval
Magia popular,
Causas a contestar,
Quiçá manifestar,
Festa pra pular.
Riso a se abrir,
Brilho a brilhar,
Cor a colorir,
Fantasia a ilustrar.
A máscara, desavisada,
Vaza o brilho de triste olhar.
Nos lábios, larga risada
Disfarça a dor a angustiar.
Nos blocos, multidão a pular.
União? Força popular? Mas... será?
Contra males a indignar,
Irão mesmo se ajuntar?
Cultura a propagar,
História a cultivar,
Alegria a transbordar
Só vale aprovar!
Todavia, vale sonhar!
Ver o povo se ajuntar
E, contra o mal, se indignar.
A solidariedade, apoiar.
Vale também desejar
Que a alegria seja real
Que a máscara não logre apagar
O olhar brilho cristal.
Que o carnaval
Não seja só um vendaval,
Ou somente um ato teatral.
Que sua ilusão seja real
O encontro, não casual
E que o bloco seja Ideal.
Luciana G. Rugani
Acadêmica das academias de Letras e Artes de Cabo Frio - ALACAF e de Letras de São Pedro da Aldeia - ALSPA
Comentários
Postar um comentário