Hoje saiu meu artigo no Blog do Totonho, onde eu busco destacar o que de fato deve fazer a diferença na diversidade. Um representante de certa minoria, nomeado para alguma função e que, ao exercer essa função, ele replica o mecanismo de opressão que oprime o grupo que representa, esse representante, a meu ver, não faz a diferença que a diversidade nos propõe. Não seria, então, um legítimo representante dessa diversidade. Leiam:
Dias atrás, li uma matéria que reproduzia uma fala assombrosa da ministra da Igualdade Social e Empoderamento Feminino de Israel, May Golan. Segundo a matéria, a ministra teria pronunciado a seguinte frase: "estou orgulhosa das ruínas em Gaza".
Isso me fez refletir e me trouxe à memória fatos aqui do Brasil, como, por exemplo, a recente escolha de ministro do Supremo Tribunal Federal - STF. Quando da escolha do próximo ministro a ser nomeado, lembro que muitas e muitos disseram, na época, que o presidente deveria escolher uma mulher. Para muitos, o principal critério deveria ser o gênero ou a raça, critérios representativos de minorias. Essa questão do gênero ou de raça como elemento de definição de nomes para ocupação de cargos é algo que merece uma atenção maior. Considerando que estamos a poucos dias do Dia Internacional da Mulher, meu foco neste artigo será a escolha de nomes em função do gênero.
Claro que é muito importante que haja maior participação da mulher. Há séculos a mulher tem ocupado posição secundária em nossa sociedade machista. Atualmente, esse panorama melhorou, a mulher conquistou espaços, porém ainda há muito o que avançar. Ter o gênero como critério de escolha para cargos públicos é algo que surgiu em decorrência dessa necessidade de avanço. Mas vale refletir: buscar a diversidade sim, sempre. Entretanto, não a qualquer custo. É comum que agentes públicos ou políticos, em função de apelo popular, sintam-se pressionados para que a escolha de algum nome se dê dentro do universo feminino e, assim, fechem seu círculo de possibilidades apenas dentro desse item, ficando outros critérios, como a ética, o caráter e a capacidade, ofuscados pelo brilho da popularidade do critério escolhido.
Voltando à fala da ministra de Israel, cujo teor classificarei de frio e abominável, e ainda, e lembrando também de nomes como o da deputada federal brasileira que saiu correndo pelas ruas, de arma em punho, atrás de cidadãos adversários de sua política, eu pergunto: qual o diferencial que mulheres como essas representam nos cargos que ocupam, quando simplesmente perpetuam atitudes reacionárias, discriminatórias e repletas de ódio? Seria o gênero diferencial suficiente? Sei que falhas de caráter, ética, e posicionamentos como os que citei são comuns em todos os gêneros, pois falamos de seres humanos. Porém eu, como mulher, me sentiria fazendo mais do mesmo se, em minha conduta, eu perpetuasse pensamentos e atitudes contaminados pelo gérmen de tudo aquilo que oprime e discrimina. Em que eu estaria contribuindo para uma sociedade diversa de tudo aquilo que ela tem de pior? É o mesmo que faz a mulher que cria seus filhos reforçando o machismo ainda presente e que tanto mal faz à nossa sociedade. É certo que erros todos cometemos, e, portanto, vez ou outra poderemos replicar atitudes nocivas, porém aquele que foi oprimido deve ser o primeiro a buscar combater em si mesmo os resquícios da opressão. Uma mulher que replica a discriminação e o ódio, a meu ver, não fortalece a diversidade e apenas mostra que, de fato, não aprendeu nada sobre a histórica luta das mulheres por espaço. E a sociedade precisa compreender que é importante que uma minoria seja inserida, porém essa inserção deve representar um contraponto ao preconceito que tanto a discrimina.
Não basta que haja mulheres no poder, mas sim mulheres que lutam pela ética nos cargos que ocupam, contra qualquer tipo de discriminação e contra a perpetuação da opressão que, historicamente, lhes tem sido impingida. Inclusão e empoderamento sim, porém o primeiro requisito deve ser a capacitação técnica, ética e humana. Toda e qualquer inclusão tem por fim básico o impulsionamento da diversidade e essa diversidade não deve se referir apenas ao gênero, mas sim, e principalmente, ao potencial de transformação e evolução social, ou seja, ao potencial de evoluir e de construir algo diferente do que de pior ainda existe na sociedade.
Luciana G. Rugani
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