Ontem, segunda-feira (16), foi publicado no Blog do Totonho o artigo que escrevi contendo um alerta em relação aos tempos de guerra em que vivemos.
Segue abaixo:
Em momentos de crise é que conhecemos o melhor, como também o pior, dos seres humanos. Essa frase é fruto de uma reflexão que fiz nos últimos dias, desde que eclodiu mais uma etapa do histórico conflito entre judeus e palestinos.
Sabemos que esse conflito é antigo. Tem raízes que remetem ao período antes de Cristo e que originam-se em questões religiosas, econômicas, históricas e políticas. E, de tempos em tempos, eclodem combates, porém não tão graves como o que, há poucos dias, iniciou-se com o ataque a Israel, empreendido pelo grupo Hamás. Esse milenar conflito acabou somando-se às ambições econômicas de outros países e, por isso, hoje vivemos novamente um dos mais graves momentos da humanidade.
Importante destacar que "povo" é diferente de "Estado". Quando falamos que os estados de Israel e da Palestina estão em conflito, isso não é o mesmo que dizer que seus povos são inimigos. Grande parte do povo de ambos os estados está cansada de guerras. E é importantíssima essa distinção, pois o que temos visto aqui no Brasil, por parte dos extremistas de direita, é o uso do conflito como forma de dividir e polarizar, como se uma guerra começasse do nada, desvinculando-a de seu contexto histórico. Como de praxe, usam as redes sociais para propagar suas mensagens, algumas ostensivas, outras mais sutis, porém todas com objetivo de incutir a ideia maniqueísta de que um lado é o bem e o outro é o mal, espalhando ódio, preconceito e discriminação. Como, na atualidade, Israel possui um governo de extrema direita, os seguidores do ex-presidente brasileiro divulgam, nas entrelinhas de suas mensagens, essa ideia simplista e falsa de que Israel representa o lado do bem e a palestina seria o lado mal. E essa estratégia da extrema direita de fazer de tudo um "fla-flu", de sempre semear a divisão, é a mesma que vimos lá atrás, no início da pandemia, quando começaram a espalhar mentiras sobre a existência do vírus e sobre a quantidade de mortos para, a partir daí, repudiar tudo que ajudasse no combate e na prevenção da doença, como as vacinas e o uso de máscaras. Essa é a velha estratégia que usam para confundir, alienar e defender suas ideias sempre a favor de mortes e de destruição.
É preciso entender que, em resumo, o que está acontecendo é uma disputa com raízes milenares, movida e incentivada também por interesses econômicos e políticos, e que estão em jogo vidas humanas de ambos os lados. É deplorável o ataque que deu início ao conflito atual, como também é deplorável a ânsia secular de domínio de terrítórios, assim como também é deplorável privar o acesso da população civil a serviços básicos essenciais. Rotular um lado como bem e outro como mal é atitude muito simplista que despreza todos os contextos, e usar a religião como expressão de ódio é deturpar totalmente a religiosidade.
Sabemos que um bom acordo e entendimento vale muito mais do que mil guerras. E sabemos que guerra é algo bom apenas para aqueles que ganham com ela e que dela se utilizam para satisfazer os seus interesses. Além disso, a sociedade humana há tempos vive um astral de guerra, uma energia bélica estimulada, nos últimos tempos, por ideias negacionistas, armamentistas, discriminatórias e preconceituosas. Estejamos, portanto, atentos para que, no ímpeto de registrar nossa indignação, não entremos nesse jogo de divisão e preconceito, que busca rotular e prontamente julgar, sem o mínimo entendimento da complexidade da questão. E, nas redes sociais, ativemos o nosso filtro mental para analisar as colocações, buscando as verdadeiras intenções por trás das muitas mensagens tendenciosas que recebemos. Não resolveremos a guerra estimulando preconceitos e divisões, muito pelo contrário. Quando destacamos um só lado como algoz e outro como vítima, estamos incentivando uma maneira equivocada de observação.
Para finalizar, termino apresentando pra vocês uma página que há anos existe no facebook, intitulada "Arabs and Jews refuse to be Enemies", ou seja, "Árabes e Judeus que recusam-se a ser inimigos", criadas por populares já cansados de tanta guerra.
Que as autoridades desses países e daqueles que ganham com a guerra possam, um dia, enxergar a insanidade de tantas disputas e de tanta ânsia de domínio. E ainda, que possam ter a consciência de que medir forças, por meio do sacrifício de vidas humanas, é a maior prova de covardia de todos os tempos.
Luciana G. Rugani
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