Muito se fala sobre aspectos físicos e sociais da pandemia. Sintomas da doença, isolamento social, efeitos na economia, etc. Tudo isso nós vemos, ou percebemos, de forma bem clara. Mas há alguns aspectos que só percebemos com uma observação mais profunda.
Dizem que este vírus veio trazer à tona algumas verdades. E, realmente, algumas são notórias, como a verdade da triste situação do sistema público de saúde, a verdade do acúmulo de poluição nos ares, mares e rios e a verdade de que somos todos humanos, ricos e pobres, sujeitos às mesmas doenças e morte. Mas há uma outra questão, que vale a pena destacar: essa pandemia veio revelar também a verdade de cada um, o interior de cada um. Explico.
Quando começou a pandemia, nunca imaginei que veria um governo agir com tamanha displicência, como agiu o governo federal, e nunca imaginei também ver pessoas brigando entre si, algumas até negando a pandemia e negando-se a tomar medidas protetivas, como uso de máscaras e isolamento social. Parece que o interior de cada um foi desvendado, fazendo vir à tona o seu ser verdadeiro, muitos egoístas, maldosos, cheios de ódio. E ainda, quando deveria haver mais união entre as pessoas, quando, apesar de distantes, os laços de convivência e de amizade deveriam se fortalecer, reforçados pela solidariedade, percebemos o contrário em muitas relações. Mais uma vez o interior de cada um era revelado, e o egoísmo veio à tona massacrando relações que antes pareciam sólidas, reais, mas que se mostraram frágeis e incapazes de resistirem a momentos graves. Vimos pessoas fechando-se em suas revoltas pessoais, com dificuldade de aceitação da nova realidade. Enquanto a chamada da Vida era para que nos readaptássemos (e para isso o mundo virtual foi uma das ferramentas que tornaram possível essa readaptação) muitos preferiram se fechar, mesmo tendo todas as condições para uma reinvenção de si mesmos. Nenhum apoio, nenhuma palavra amiga, nenhuma preocupação com o outro. Algo típico do "cada um por si". Então vimos o fim de amizades que pareciam sólidas. Ficou apenas a verdade do vazio, comprovação de que as relações eram frágeis e, de fato, não passavam de mera ilusão. No momento em que as pessoas mais deveriam dar as mãos, quando a vida pede união, amor, solidariedade, quando tudo no planeta nos grita para termos mais pensamento coletivo, mais EMPATIA, o ser humano se mostra ainda mais egoísta! Incrível esse paradoxo da sociedade humana! Quando, para resolver de forma mais leve e menos traumática uma grave questão basta termos mais empatia uns com os outros, aí é que vamos no caminho contrário, no caminho do egoísmo. Resultado: agravamento de circunstâncias e relações, que poderiam ser fortalecidas com o apoio uns aos outros, findando-se no egoísmo silencioso.
Basta ser um observador atento e analisar com mais profundidade para perceber esse lado oculto da pandemia, porém revelador da falência da empatia e do amor e da predominância do egoísmo em nossa sociedade. Muito triste essa realidade, afinal não é fácil lidar com verdades reveladas praticamente da noite para o dia. De repente é como se desabasse o chão, a base, muito do que acreditávamos ser real. Dói, deprime, nos transtorna profundamente. O confronto com a verdade dessa forma é, com certeza, uma das mais dolorosas provas a que somos submetidos.
Luciana G. Rugani
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