Uma Feliz Descoberta e Uma Triste Constatação!
por Acioli Junior
Na quarta-feira, 9 de maio de 2017, participava de um Conselho de Classe na minha escola no município de Rio das Ostras. Como muitos professores são oriundos da cidade de Casimiro de Abreu e principalmente de seu distrito, Barra de São João, aproveitei para entrevistá-los sobre a Ponte Caída de Barra. Queria saber quando a ponte foi construída, quem a mandou construir (em qual governo), qual a finalidade de sua construção e, principalmente, quando ela caiu.
Esse meu interesse pelo local advém do meu livro “Roteiro Ambiental e Patrimonial da Cidade de Cabo Frio”, pois nele eu faço a narrativa histórica de bens culturais e ambientais do segundo distrito de Cabo Frio, das suas praias (Unamar, Aquárius e Pontal) e dos rios São João e Una. O supracitado Rio São João tem a sua foz na praia do Pontal, e a ponte ou as pontes que esse rio atravessa abaixo fazem a divisão territorial entre os municípios de Casimiro de Abreu e Cabo Frio. Portanto conhecer a história local é do meu total interesse.
As entrevistas responderam a algumas das minhas perguntas; descobri a data da construção da Ponte, ano de 1942, e sua finalidade: servir como ferrovia, não como rodovia, como pensam as pessoas que não conhecem sua história. Porém, eles não souberam responder à principal questão, a data da queda da ponte. Nem os sites das duas prefeituras (Casimiro de Abreu e Cabo Frio) trazem essa informação. Entretanto, eles me indicaram uma certa senhora, dona Elza, moradora e comerciante de Barra de São João, uma profunda conhecedora da história e "causos" da localidade.
Eles não indicaram a data da “queda” da Ponte Caída de Barra de São João, porque ela caiu em vários momentos distintos nos anos 1950 e 1960, deixando-nos um lindo visual. Foi se tornando o mais famoso Cartão Postal da localidade, tanto para Casimiro de Abreu como para Cabo Frio.
Após o final do conselho de classe, prontamente me dirigi a casa dessa senhora; encontrei seu comércio fechado e decidi não chamá-la em casa, pois já era quase noite e chovia. Então, me dirigi a Campos Novos, Segundo Distrito de Cabo Frio. Fui à casa de minhas tias e começamos a falar das histórias e principalmente das lendas envolvendo a Fazenda Campos Novos e região.
Ao relatar a ambas os resultados de minhas entrevistas e falar sobre a estação ferroviária de Barra de São João e da finalidade da Ponte Caída, que era servir como ferrovia, minhas tias disseram: “mas aqui também tem uma estação ferroviária bem perto, ela está em área da Marinha, perto da escola pública municipal”. Eu fiquei estupefato com o que ouvi, admirado, alegre. Ouvi pela primeira vez sobre um monumento histórico, o qual estava bem próximo, e os livros de História de Cabo Frio, que não são muitos e já os li todos, nenhum falava dessa estação, muito menos sobre a possibilidade de passar trens nessa localidade.
O mais interessante foi ouvir sobre um monumento histórico importantíssimo para a história da cidade de Cabo Frio, especialmente para o Segundo Distrito, mas as pessoas que falaram dele pareciam estar relatando algo totalmente sem importância, insignificante. Eu disse para minhas tias: _ “Ninguém pode valorizar aquilo que não foi educado para valorizar, muito menos porque o poder público (municipal e federal - já que a área pertence à Marinha, ou seja, à União) também não valoriza seus patrimônios”.
É fundamental as pessoas serem educadas patrimonialmente, para assim valorizarem sua história, memória e identidade cultural. Por isso urge um trabalho sério com nossos alunos para que eles respeitem e se identifiquem com o patrimônio da localidade à qual pertencem. Da mesma forma, é necessário o poder público, nas esferas municipal, estadual e federal, dar o devido valor ao rico patrimônio da localidade. Se o governo não o valorizar, dificilmente os governados os valorizarão.
É inaceitável saber que um monumento histórico está abandonado há quase um século, sem que o poder público, as escolas, os pesquisadores e a própria comunidade local o conheçam. Ele está há décadas imperceptível e abandonado em meio a um matagal, como sendo algo de pouca importância, e o pior, a poucos metros de uma escola pública municipal. Mesmo assim os professores e alunos não conhecem a estação, muito menos sua história.
Fiquei muito feliz enquanto pesquisador por ter descoberto essa subestação e muito triste por mais uma vez constatar que Cabo Frio e o Brasil tratam tão mal sua história e seu patrimônio cultural!
Obs.: 1 Ainda se pode ver a Estação Ferroviária de São Pedro da Aldeia, hoje sede do IPHAN, a de Barra de São João intacta e a de Campos Novos, no meio do matagal nas áreas pertencentes à Marinha do Brasil, perto do trevo de Búzios. A Estação de Cabo Frio que fica no Bairro Boca do Mato, ainda existe e está preservada (não como deveria), mas aos cuidados de particulares. A de Rio das Ostras já foi destruída, conforme relatos de seus antigos moradores que por mim foram entrevistados. Também foram destruídas as mais antigas estações ferroviárias da Região dos Lagos, a de Conde de Araruama e a de Iguaba Grande, tendo somente lindas fotos de recordação, situada no Bairro ironicamente chamado de “Estação”.
Obs.: 2 “Por ocasião da Segunda Guerra Mundial, a E. F. Maricá tinha interesse em alcançar a localidade de Macaé. Para tal, foi criado o posto Telegráfico Fonseca no Km 156, de onde partiria a linha em direção a Macaé, atravessando as comunidades de Búzios (Campos Novos), Rio das Ostras, Barra de São João e Rio Dourado, daí até Macaé, margeando a rodovia. Em Barra de São João ainda existe uma estação ferroviária com plataforma e dizeres alusivos à EFM. Uma ponte sobre o Rio São João foi construída para atender ao tráfego ferroviário. Em Rio das Ostras existia há cerca de 20 anos uma estação ferroviária. Segundo informações de moradores antigos da região, nesse trecho ferroviário passaram somente autos de linha e troles, nunca circulando qualquer trem comercial” (Rodrigues, 2005.)
Obs.: 3 Esse texto faz parte do meu segundo livro: Roteiro Ambiental da Cidade de Cabo RJ (indisponível no momento).
A estação de Juthurnayba também ainda está de pé.
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