por Valdir da Silva
Meu nome é Valdir da Silva, tenho 42 anos, moro em Porto Alegre (RS). Sou natural de Taquaruçu do Sul. Nasci e cresci na roça, em uma família bem numerosa de nove irmãos. Éramos muito pobres, tivemos muitas dificuldades, mas nunca deixamos de acreditar na união da família, no amor e respeito. Crescemos todos dentro desta linha de educação, o tempo passou e cada um seguiu seu caminho. Uns foram morar na cidade, trabalhar nas fabricas. Eu resolvi então seguir este caminho e tentar a sorte.
Fui morar com minha irmã Elsa na cidade de Nova Hartz, no Vale dos Sinos (RS). Comecei a trabalhar em uma firma de calçados na linha de montagem. Trabalhei cinco anos, e foi quando entraram dois funcionários novos. Fui designado pela chefia para ensinar um destes funcionários a lixar a palmilha de uma sandália. Foi neste momento que tudo aconteceu.
Do primeiro par de calçado que encostei na lixadeira, saltou uma ponta de taxinha (pregos que seguram o couro do calçado) e atingiu meu olho direito. Senti muita dor, virei para o lado e bati em um galão de solvente que caiu no chão saltando aquele líquido no meu rosto. Fui socorrido, levado para uma clinica, e voltei a trabalhar com o olho direito tapado.
Do primeiro par de calçado que encostei na lixadeira, saltou uma ponta de taxinha (pregos que seguram o couro do calçado) e atingiu meu olho direito. Senti muita dor, virei para o lado e bati em um galão de solvente que caiu no chão saltando aquele líquido no meu rosto. Fui socorrido, levado para uma clinica, e voltei a trabalhar com o olho direito tapado.
Passaram-se 15 dias e meu olho começou a sangrar. Voltei na clinica e então o médico falou que em 6 meses eu estaria totalmente cego. Meu mundo parou naquele momento, pensei que minha vida havia acabado.
Saí do hospital desolado, passei em um supermercado, comprei uma corda e pensei: "vou dar um fim na minha vida". Esperei minha irmã sair para o trabalho, coloquei a corda em uma madeira, posicionei um banco, mas, quando fui colocar a corda no meu pescoço, foi como se um filme passasse na minha cabeça. Vi minha mãe, meu pai, irmãos e amigos chorando. Foi então que percebi o quanto estava sendo egoísta ao pensar somente na minha dor e no meu sofrimento. Naquele momento acordei para a realidade e comecei a buscar ajuda para fazer uma reabilitação.
Mudei de cidade, fui morar com minha outra irmã, pois ela morava perto de uma associação que realizava reabilitação na cidade de Canoas (RS). O começo foi muito difícil, com muitos desafios. Eu teria que aceitar minha condição de cego e para quem perde a visão é bem complicado. Mas sempre fui uma pessoa muito persistente e sempre gostei de desafio. Resolvi, depois de muita insistência da parte de minha irmã, ir até o local de reabilitação. Ao chegar lá, prestei atenção e percebi que não era só eu quem estava cego, havia outras pessoas com o mesmo problema. Pensei: "bom, se eles conseguem, porque não vou conseguir"? Conversamos com a equipe de profissional e ali mesmo assumi um compromisso e uma meta. Em 2 meses estaria andando sozinho e em 8 meses estaria lendo o braille. Assim comecei minha nova história.
Fiz minha reabilitação. É claro, os desafios continuaram. Mas a associação viu minha garra e determinação e começou a me incluir em seus projetos. Voltei a estudar, participar de seminários e grandes eventos. Me formei em massoterapia, pinturas em tela com técnicas de pincel, escultura em pedra sabão e xilogravuras.
Fui vice-presidente da associação por 4 anos. Participei do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência de Canoas por 4 anos, Conselho de Educação do mesmo município e Conselheiro Estadual do Rio Grande do Sul por 2 anos.
Certo dia uma professora me perguntou: "Valdir, porque você não fotografa"? Fiquei surpreso e perguntei: "como um cego vai fotografar se não pode ver"? Ela respondeu: "pode sim, você tem teus outros sentidos". Aquilo me surpreendeu e começou a despertar em mim uma nova paixão. Comprei uma máquina simples, cheguei e falei para a professora: "agora, como farei para fotografar"? Ela falou: "você só não pode ver, mas tem teus outros sentidos". Ela se afastou e falou: "segue minha voz e meu perfume". Tirei minha primeira foto! Foi uma emoção muito grande e assim começou minha história como fotógrafo cego.
Comecei tirar fotos de paisagens, pessoas, por do sol. Surgiu então um pedido para expor estas fotos, fazer um varal fotográfico junto a palestras motivacionais. Encarei este desafio, não como uma forma de ganhar financeiramente, mas de levar uma mensagem positiva às pessoas de que tudo é possível, basta acreditar nos seus sonhos e naquilo que você quer. Hoje realizo exposições e palestras por todo o Brasil, com convites para expor fora do Brasil com foco na inclusão social das pessoas com deficiência na sociedade.
Há seis anos atras perdi minha filha mais velha em um acidente de moto. Ela deixou um neto de um mês de idade, que mora com o pai e atualmente tem seis anos. Foi mais um baque na minha vida. Balancei, mas não caí, pois ao mesmo tempo ganhava outra pequena: minha filha Vitória, que hoje tem seis anos e é minha parceira nas fotografias. Ela ajuda a descrever os lugares e as pessoas para que eu possa fotografar.
Amo fotografar por do sol e as ondas do mar. Para fotografar um por do sol, Vitória, ou a minha esposa Neca, me posicionam e, através do calor do sol se pondo, vou clicando. Se são as ondas do mar, fico parado sentindo o barulho das ondas se formando e o barulho das ondas se quebrando, então clico. É uma fração de segundos. A natureza: pelo som dos pássaros, o vento batendo na folha das árvores, a elevação do terreno. Uma pessoa: o som da voz, o perfume e, principalmente, sua energia.
Quando fotografo não tiro fotos da estética. Fotografo a essência das pessoas e da natureza.
Saí do hospital desolado, passei em um supermercado, comprei uma corda e pensei: "vou dar um fim na minha vida". Esperei minha irmã sair para o trabalho, coloquei a corda em uma madeira, posicionei um banco, mas, quando fui colocar a corda no meu pescoço, foi como se um filme passasse na minha cabeça. Vi minha mãe, meu pai, irmãos e amigos chorando. Foi então que percebi o quanto estava sendo egoísta ao pensar somente na minha dor e no meu sofrimento. Naquele momento acordei para a realidade e comecei a buscar ajuda para fazer uma reabilitação.
Mudei de cidade, fui morar com minha outra irmã, pois ela morava perto de uma associação que realizava reabilitação na cidade de Canoas (RS). O começo foi muito difícil, com muitos desafios. Eu teria que aceitar minha condição de cego e para quem perde a visão é bem complicado. Mas sempre fui uma pessoa muito persistente e sempre gostei de desafio. Resolvi, depois de muita insistência da parte de minha irmã, ir até o local de reabilitação. Ao chegar lá, prestei atenção e percebi que não era só eu quem estava cego, havia outras pessoas com o mesmo problema. Pensei: "bom, se eles conseguem, porque não vou conseguir"? Conversamos com a equipe de profissional e ali mesmo assumi um compromisso e uma meta. Em 2 meses estaria andando sozinho e em 8 meses estaria lendo o braille. Assim comecei minha nova história.
Fiz minha reabilitação. É claro, os desafios continuaram. Mas a associação viu minha garra e determinação e começou a me incluir em seus projetos. Voltei a estudar, participar de seminários e grandes eventos. Me formei em massoterapia, pinturas em tela com técnicas de pincel, escultura em pedra sabão e xilogravuras.
Fui vice-presidente da associação por 4 anos. Participei do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência de Canoas por 4 anos, Conselho de Educação do mesmo município e Conselheiro Estadual do Rio Grande do Sul por 2 anos.
Certo dia uma professora me perguntou: "Valdir, porque você não fotografa"? Fiquei surpreso e perguntei: "como um cego vai fotografar se não pode ver"? Ela respondeu: "pode sim, você tem teus outros sentidos". Aquilo me surpreendeu e começou a despertar em mim uma nova paixão. Comprei uma máquina simples, cheguei e falei para a professora: "agora, como farei para fotografar"? Ela falou: "você só não pode ver, mas tem teus outros sentidos". Ela se afastou e falou: "segue minha voz e meu perfume". Tirei minha primeira foto! Foi uma emoção muito grande e assim começou minha história como fotógrafo cego.
Comecei tirar fotos de paisagens, pessoas, por do sol. Surgiu então um pedido para expor estas fotos, fazer um varal fotográfico junto a palestras motivacionais. Encarei este desafio, não como uma forma de ganhar financeiramente, mas de levar uma mensagem positiva às pessoas de que tudo é possível, basta acreditar nos seus sonhos e naquilo que você quer. Hoje realizo exposições e palestras por todo o Brasil, com convites para expor fora do Brasil com foco na inclusão social das pessoas com deficiência na sociedade.
Há seis anos atras perdi minha filha mais velha em um acidente de moto. Ela deixou um neto de um mês de idade, que mora com o pai e atualmente tem seis anos. Foi mais um baque na minha vida. Balancei, mas não caí, pois ao mesmo tempo ganhava outra pequena: minha filha Vitória, que hoje tem seis anos e é minha parceira nas fotografias. Ela ajuda a descrever os lugares e as pessoas para que eu possa fotografar.
Amo fotografar por do sol e as ondas do mar. Para fotografar um por do sol, Vitória, ou a minha esposa Neca, me posicionam e, através do calor do sol se pondo, vou clicando. Se são as ondas do mar, fico parado sentindo o barulho das ondas se formando e o barulho das ondas se quebrando, então clico. É uma fração de segundos. A natureza: pelo som dos pássaros, o vento batendo na folha das árvores, a elevação do terreno. Uma pessoa: o som da voz, o perfume e, principalmente, sua energia.
Quando fotografo não tiro fotos da estética. Fotografo a essência das pessoas e da natureza.
Aprendi com minha deficiência a ver tudo com os olhos do coração. Que as pessoas à minha frente não têm máscaras, e sim essência. A vida não me tirou nada e sim me deu a oportunidade de evoluir como pessoa. A lente da minha máquina são os meus olhos e cada clique é a batida do meu coração.
Bom, este é um resumo pequeno da minha história. Sempre falo nas minhas palestras que minha historia é nua e crua, tem tragédia, comédia e muito romance.
As fotos abaixo foram tiradas por mim. Tenho tantas outras no meu arquivo. Tenho meu grupo público no Facebook chamado "Valdir da Silva fotógrafo cego". Entra lá e você vai poder saber mais sobre minha história.
Vale lembrar que minhas exposições e palestras motivacionais são realizadas nas escolas, empresas e universidades, sendo que todas as exposições e palestras são gratuitas, voltadas à inclusão social das pessoas com deficiência na sociedade através da arte e da fotografia. Cobro somente passagem, alimentação e hotel. Meu whatsapp é 051-997833179.
Bom, este é um resumo pequeno da minha história. Sempre falo nas minhas palestras que minha historia é nua e crua, tem tragédia, comédia e muito romance.
As fotos abaixo foram tiradas por mim. Tenho tantas outras no meu arquivo. Tenho meu grupo público no Facebook chamado "Valdir da Silva fotógrafo cego". Entra lá e você vai poder saber mais sobre minha história.
Vale lembrar que minhas exposições e palestras motivacionais são realizadas nas escolas, empresas e universidades, sendo que todas as exposições e palestras são gratuitas, voltadas à inclusão social das pessoas com deficiência na sociedade através da arte e da fotografia. Cobro somente passagem, alimentação e hotel. Meu whatsapp é 051-997833179.
É impressionante uma pessoa dizer que ficou feliz depois de sua deficiência. É como saber tirar água da pedra!
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