Prepotente ou arrogante?
por Jan Parellada
Uma confusão com a qual convivo no meu dia-a-dia é a utilização equivocada dos conceitos de prepotência e arrogância. O prepotente é aquele que acredita que possui o conhecimento, a consciência e o controle que na verdade não tem. O arrogante é aquele que presume, ou tem, precedência sobre outros indivíduos e a utiliza de forma ostensiva para alcançar um objetivo. Prepotência e arrogância são comportamentos distintos. A despeito de frequentemente se somarem, não são a mesma coisa. Se analisarmos algumas situações, conseguiremos distinguir e visualizar melhor a diferença entre os dois comportamentos.
O prepotente não é necessariamente arrogante, e o contrário é verdadeiro também.
O prepotente não é aquele sujeito que anda de nariz empinado, olhando seus pares como pessoas menores. A prepotência é um sentimento inevitável, ou você nunca teve uma convicção que foi derrubada pelo tempo? Não só teve, como continua tendo e terá até o final da sua vida. O problema não é ser prepotente, o problema é continuar prepotente mesmo depois da consciência que aquela premissa que nos guiava não era consistente, não era real. Um exemplo: Você tem uma namorada e acredita verdadeiramente que ela te ama e que o casamento é só uma questão de tempo. De repente, surgido do nada, aparece uma pessoa na vida da sua parceira pela qual ela perdidamente se apaixona, dando um fim ao seu relacionamento e as suas expectativas. O que aconteceu? Você não tinha dúvidas de que era o homem da vida da sua namorada. De que ela te amava. E certamente ela te amava, só que você foi prepotente ao supor que esse amor não poderia ser suplantado por outro maior. Por um amor arrebatador, incontrolável da sua amada por outro indivíduo. Não a culpe, nem a você. Vocês são simplesmente dois seres humanos que, a exemplo de todos os outros, estão sujeitos aos caprichos do nosso cérebro. Outro fato importante é que a sua namorada também foi prepotente, não porque o deixou optando por outro, mas sim porque ela também tinha convicção de que te amava e de que vocês construiriam um futuro juntos. Vocês dois foram prepotentes quando acreditaram que o destino já estava traçado, e que nada seria capaz de mudar isso. Nós, humanos, necessitamos ter convicções para que vida possa se traduzir em segurança e felicidade, o que explica porque a prepotência é inevitável.
Ao contrário da prepotência, a arrogância pode ser evitada. Para muitas pessoas é difícil abrir mão do seu sentido de superioridade sobre os demais, mas nunca impossível. Por que a prepotência é inevitável e a arrogância não? Porque é impossível, jamais conheci um ser humano que não tenha convicções, não raro certezas, de que sabe, domina e possui controle de determinadas circunstâncias. O que, por melhor que sejam as suas intenções, não é necessariamente verdadeiro. A prepotência é inevitável e o problema é que ela provoca frustrações. Quais sejam: tristeza, desanimo, apatia, raiva e nos casos mais graves depressão. A única maneira de evitar isso, seria uma situação utópica, na qual nenhuma de suas “prepotências” fosse frustrada. Não conheço nenhum caso.
E porque a arrogância é evitável? Simples, “pero no mucho”, a arrogância é uma característica instrumental, o que no jargão psicoterapêutico significa que ela pode ser controlada, pode ser modificada, e é perfeitamente viável a possibilidade de você escolher exercê-la ou não. Não estou dizendo que é fácil. Estou afirmando que é possível. Mas porque um indivíduo arrogante, que acredita na legitimidade da sua superioridade, se interessaria em abandonar a sua arrogância e adotar uma atitude de urbanidade perante os que o cercam. Porque ele é humano, ele não está imune ao sofrimento de se sentir rejeitado, mal amado e , inclusive, frustrado. Da mesma forma como o prepotente, o arrogante está sujeito aos mais diversos sentimentos incômodos e também a episódios depressivos. Que eu lhes garanto, por experiência própria, é tudo que você não deseja e não precisa na vida. Mas vamos a um exemplo de arrogância, no qual não está presente a prepotência:
Um indivíduo entra numa repartição pública e interpela o seu atendente num tom ríspido:
- Sou fulano de tal, advogado. Exijo saber porque me enviaram essa notificação de cobrança.
Ele não está sendo prepotente. Ele é realmente “fulano de tal” e advogado. E mais, está confessando abertamente a sua ignorância, ao dizer que não sabe o que está acontecendo. Ele está simplesmente sendo arrogante, presumindo que o seu nome e a sua profissão lhe conferem a prerrogativa de exigir uma explicação ao invés de solicitá-la com bons modos. Relembrando a definição de arrogante: aquele que presume, ou tem, precedência sobre outros indivíduos e a utiliza de forma ostensiva para alcançar um objetivo. É exatamente o que está acontecendo aqui.
Por fim, eu perguntaria a você: Qual o mais lesivo e perigoso desses dois comportamentos? Qual deles pode implicar em mais perdas, frustrações e sofrimento?
Se você respondeu prepotência acertou. Nada pior do que vivenciar a dor de ter as nossas convicções derrubadas. Na maioria das vezes elas fundamentam a nossa existência.
Fonte: Recanto das Letras
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