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O POLÍTICO COMO PRODUTO DE VENDA EM TROCA DE BAIXARIAS VIRTUAIS

Por Luciana G. Rugani - o texto abaixo é uma breve reflexão do professor e político Gabriel Azevedo sobre a matéria da BBC intitulada "Robôs e 'big data': as armas do marketing político para as eleições de 2018", que trata dos diversos mecanismos digitais que existem hoje para induzir o eleitor e "vender" um político. 
Há perfis robôs nas redes sociais, os social bots, que interagem nas redes como se fossem seres humanos e são controlados por inteligência artificial; há softwares destinados a mapear perfis; compra e venda de dados pessoais, enfim, uma infinidade de recursos tecnológicos não somente com objetivo de divulgar os candidatos, mas também, e principalmente, de manipular opiniões. Importante que o eleitor conheça estes mecanismos para se proteger e não ser vítima destas "baixarias virtuais".
Será o político um produto que deva ser vendido em troca dessa bateria de sujeira que promove farsas e mentiras? Que "democracia" é construída a partir disso?
Com a palavra, Gabriel Azevedo:

por Gabriel Azevedo

Uma reflexão: inúmeras ferramentas surgem a cada eleição para fazer o candidato dizer exatamente o que o eleitor quer ouvir. E político deve ser um produto para ser vendido assim?
Por qual razão digo isso? Eu já fui candidato. Eu não falei tudo que o eleitor queria ouvir. Pelo contrário. Falei algumas coisas que eles não queriam ouvir. Considero que deve existir um limite no que você faz para vencer uma eleição sob pena de completa decepção do eleitorado. Ou pior, sob pena de abandonar princípios, o que é mais grave.
Notem bem... Em 2018, os candidatos sérios e comprometidos terão de dizer muitas coisas que os eleitores não querem ouvir não. Fico pensando, por exemplo, num candidato a governador de Minas Gerais (na esperança que exista um sério e comprometido). O que esse sujeito vai fazer para agradar o eleitorado? Risos. O que vai prometer de doce e alegre? A realidade é dura.
Em 2016, participei da campanha de prefeito de Belo Horizonte como vocês sabem. Várias pessoas que oferecem esses serviços de dados digitais me procuraram oferecendo os seus préstimos. Os valores? Custam milhões de reais! Repetindo: milhões de reais. Sei que a campanha do adversário de Alexandre Kalil contratou um profissional que havia oferecido os préstimos a mim. A ferramenta detectou que acusar o meu candidato de caloteiro funcionava com os eleitores indecisos. Pronto... Bastou isso para que o coitado do Seu Geraldo aparecesse mais na televisão que o próprio João Leite. E na internet todos os mecanismos possíveis de robôs e replicação começaram a atacar o candidato para grudar na cabeça do eleitor indeciso uma série de argumentos negativos contra o atual prefeito. Quase ninguém lembra mais disso, pois a memória eleitoral brasileira é muito curta.
O eleitor embarca nesse tipo de estratégia facilmente. João Leite disse em campanha que seria a "voz" do Seu Geraldo na cobrança das dívidas. Eu sou forçado a apontar a ironia da situação. Quem deve, e deve muito dinheiro agora, é o João Leite que usou todas as ferramentas possíveis para ganhar aquela eleição e tem uma fila de cobradores no seu gabinete. E tenho até pena dele. É um bom sujeito. Não o reconheci naquela eleição. O PSDB foi irresponsável com o seu candidato.
De qualquer forma, aponto isso destacando que o dinheiro para as campanhas eleitorais sumiu. O valor de mercado dessas ferramentas é altíssimo. Repetindo: altíssimo. Ainda, o trabalho digital, para ser bem feito, não pode acontecer somente no período da campanha. Como isso fica? De onde surge a contabilidade pré-eleitoral?
E, por fim, mas não menos importante, que tipo de democracia falsa esse tipo de tecnologia está construindo? Não falo apenas do Brasil. Falo do mundo! A ideia de que esse modelo de trabalho se resume a divulgar as ideias de um candidato não é verdadeira. Com muita tecnologia, o que se consegue é uma bateria de sujeira contra o candidato adversário. Donald Trump usou isso a exaustão.
Não estou pregando que a tecnologia e a inteligência não sejam usadas na campanha eleitoral na internet. Seria incoerente da minha parte que participo disso há mais de uma década. O que estou colocando aqui é o tipo de eleição que está sendo construída pela tecnologia e seus efeitos para a democracia.
Penso que a grande conclusão é uma postura para o eleitor. Quanto mais informado sobre os mecanismos que existem e de que forma eles são usados, com melhor capacidade ele poderá agir na hora de votar. E tem sido cada vez mais importante votar e votar bem. Eu torço sinceramente que a internet seja mais aliada do que adversária nesse sentido. Meu receio mais concreto é que o uso indiscriminado de baixarias, exércitos de militantes, abusos de trolls e conteúdo abaixo da crítica tornem a internet tóxica na eleição de 2018. Isso seria ruim para quem gosta verdadeiramente de políticos, péssimo para os bons candidatos que querem usar a rede para o bem e terrível para o Brasil que tem aqui uma ótima oportunidade de aglutinar quem deseja construir mudança.

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