por Deborah Prates
Presidente da Comissão da Mulher no Instituto dos Advogados Brasileiros - IAB
Sinto-me acariciada assistindo, na prática, os efeitos dos exercícios de acessibilidade atitudinal que venho fazendo no IAB. Ouço as pessoas comentando que o meu trabalho de formiguinha vem surtindo efeito.
Fiquei a refletir sobre isso.
Concluí que não. Afinal, as formiguinhas fazem um trabalho coletivo, de modo
que o todo é bem maior que a soma das partes. Há uma sinergia e empatia que
paira no ar! Poxa, que bacana se o seguimento acreditasse na transformação
social via educação! Se não ficasse - tão-só - pedindo novas leis... aumento
nas multas... A educação é tudo! Creio na atitudinal como alavanca
transformadora.
Vou dividir com todas, todes e
todos uma singela passagem que, para mim, significa muito e tem a ver com o 21
de setembro.
As mulheres com deficiência
sempre estiveram nas entrelinhas da história, já que esquecidas e
negligenciadas pela coletividade. A voz falada ou escrita lhes é negada, até
mesmo por suas pares. É mais fácil deixá-las na invisibilidade do que efetivar
os seus direitos fundamentais, valendo, para estes comentários, ressaltar as
acessibilidades em todas as suas nuances.
Na condição de presidente da
Comissão da Mulher, procurei o presidente nacional do IAB - Dr. Técio Lins e
Silva - para explicar-lhe a necessidade de ser colocada uma rampa de acesso no
tablado localizado no plenário, proporcionando, assim, igual oportunidade a
todas as pessoas que queiram ocupar o espaço. Sabia que, pela conjuntura
histórica do IAB, não seria nada simples.
Aduzi, por exemplo, que uma
mulher cadeirante, se convidada para um evento, não teria autonomia e
independência para participar da mesa, ante a ausência de acessibilidade.
Enfatizei os fundamentos e objetivos da república. Discutimos, apresentando e
contrapondo razões, em iguais condições de argumentação, o que nos levou as
várias reflexões e, finalmente, ao deferimento do pedido. Nem acreditei! Depois
de 174 anos de existência o IAB terá uma rampa!
Tive a certeza que a fratria é o
mote do Instituto. Constatei que a fraternidade age como modo de coibir a
desigualdade. Nesse particular, registro que a contratação de intérpretes para
a LIBRAS nos eventos da Comissão da Mulher sempre foram bem recepcionados, numa
demonstração de consciência na ruptura das barreiras atitudinais, as quais
impedem o cumprimento da legislação acerca das acessibilidades.
Logo, a fratria e a solidariedade
funcionam no IAB como eixos para a reconstituição dos laços sociais. Lindo!
Por essa boa notícia é que a
Comissão da Mulher - integradora de minorias e de singularidades - adiou o
evento que faria em 21 de setembro - dia da conscientização da luta das pessoas
com deficiência no Brasil - para nova data. Então, a mulher com deficiência
física poderá subir, com dignidade, a rampa de acesso ao tablado para
palestrar, juntamente com as suas iguais, em equiparação de condições. Afinal,
todos os dias do ano também são nossos!
As mulheres com deficiência são
muito mais violentadas, física e simbolicamente, que as sem deficiência.
Portanto, precisam ser ouvidas para que possam contar à sociedade sobre a
violência que também sofrem decorrente de gênero. Precisam ser empoderadas para
que participem do processo democrático em todos os campos sociais, políticos e
econômicos. Compete, da mesma forma a esse nicho populacional, participar de
debates públicos e tomar decisões que sejam importantes para o futuro da
sociedade. Certo é que o feminismo é um movimento de transformação social.
O IAB está construindo um novo
conceito sobre as pessoas com deficiência, sendo tal ressignificação essencial
para a verdadeira inclusão. Mexer e romper com a cultura que está posta faz
séculos não é tarefa fácil. Voltar os olhos para dentro de si e checar o que
está certo e errado e ter a ousadia de mudar tudo para prosseguir com novos
paradigmas é nutrir o nobre sentimento da humildade.
Sinto-me orgulhosa e honrada em
integrar os quadros do IAB.
Deborah Prates
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