Resenha do livro "Boulevard" - Autor: Paulo Cotias.
O livro é narrado na primeira pessoa. Um político, já não mais na ativa, conta suas memórias em uma cafeteria.
O personagem narrador não representa unicamente uma pessoa, mas sim um arquétipo que visa mostrar uma das muitas sínteses do universo político em que vivemos. Ali, Antônio Salinas conta suas armações políticas sem o mínimo de ética e caráter, sua vida de luxúria, seu envolvimento com drogas e sexo, as informações pessoais que consegue utilizando supostos encontros católicos de casais promovidos por ele e sua esposa e o uso de tais informações como meio de chantagem nas armações e acordos. A decepção de sua esposa quando descobre o uso de algo que, para ela, era sagrado, como estes encontros religiosos. Tanta decepção, aliada à vida desregrada do marido, a leva a uma vida apagada e deprimida, vindo a falecer de câncer. Traições conjugais aos montes são também utilizadas para manter o controle por meio de chantagem. É uma visão do poder pleno de orgulho e vaidade.Os fatos narrados são velhos conhecidos nossos da política brasileira, como, por exemplo, os acordos com aparentes "opositores", as licitações fraudulentas, obras superfaturadas, dossiês sobre uns e outros para usar como chantagem, entre outros.
O que mais surpreende na narração é a forma clara e direta com que o narrador mostra não ter nenhum pingo de caráter, dizendo expressamente que nas providências tomadas, nas obras e serviços executados pelo grupo governante, não há nada com intuito real de trazer melhorias para o povo: "O benefício para o povo era um efeito colateral de um jeito novo de saber enriquecer com a política, de controlar os cordões e ainda parecer que, de fato, fazíamos uma revolução ética" (frase do livro), o que chamam de "hipócritocracia" (termo usado no livro). Traições conjugais aos montes são também utilizadas como meio de controle e chantagem. O personagem nos mostra todo seu raciocínio, suas ações meticulosamente calculadas, sua falta total de pudor em expor claramente sua personalidade, a meu ver, psicopata, pois não há na fala dele qualquer limitação ética em passar por cima de quem quer que seja para chegar ao seu alvo.
Antônio Salinas não representa nenhum personagem específico do meio político, mas sim todo o universo de corrupção e vaidade que sabemos existir.
O livro todo é uma ficção, mas as artimanhas casam perfeitamente com algumas notícias sobre a política em geral que diariamente nos chegam através da mídia.
Vale a pena a leitura de ambos os livros para ampliarmos nosso conhecimento sobre o universo político.
Luciana G. Rugani
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