Chegou o período eleitoral. Época de propaganda de candidatos e também de divulgação do pleito pelo governo.
Como sempre acontece nessa época, a divulgação do governo resume-se a algumas propagandas do TSE mais simples, que não costumam entrar a fundo na realidade das questões práticas relativas ao voto. Não costumam abordar troca de voto por vantagens, voto de cabresto, puxadores de voto, candidatos "rabiola", candidatos figurantes, etc...etc... Até parece que nada disso existe no Brasil!
Não são poucos os brasileiros que veem a eleição como um negócio rentável. Não é pequeno o número de pessoas que trocam seu voto por benefícios diversos, seja dinheiro, cesta básica, favores, cargos, etc. Algumas pessoas, quando convidadas por outras para apoiar esse ou aquele candidato, costumam dizer algo como: "mas o que eu ganho em apoiá-lo, que que vou ganhar com isso?"
Em um país onde temos significativa parcela dos brasileiros condicionando seu voto a benefícios, a pressões diversas às quais são submetidos, podemos dizer que nossa esperança de mudança de toda essa sistemática que temos hoje no mundo político reside no voto? Podemos dizer, como afirmam muitas propagandas oficiais sobre eleição, que estamos fazendo valer nosso direito e fazendo ouvir nossa voz?
Acho que já é tempo de nosso TSE e nossa mídia abordarem o assunto de forma mais realista, chamando a atenção para fatos concretos que sabemos que ocorrem de norte a sul de nosso Brasil. Como diz o professor Osmar Ventris: "O mesmo eleitor que critica e pede moralidade e ética, é o mesmo que pede para "quebrar seu galho" ignorando a moralidade e a ética! O mesmo eleitor que critica e abomina a corrupção, elege corruptos, vende seu voto, busca favorecimentos imorais para si e sua família. O problema não é do eleitor ou do político eleito. O problema é cultural! Daí, não adianta trocar os políticos nem os partidos políticos, porque os substitutos repetirão os mesmos vícios dos anteriores, lembrando que os políticos são cidadãos eleitos livremente em voto secreto por outros cidadãos, dentre os quais, muitos sonham com o poder político, não para o bem comum, mas para melhorar de vida! Cultura não muda do dia para a noite".
São necessárias campanhas educativas mais de acordo com nossa realidade. Campanhas que busquem alertar para o fato de que um benefício recebido aqui a curto prazo, em troca do voto, pode significar total estagnação no dia de amanhã. Campanhas que esclareçam que o voto é o registro de uma vontade, e uma vontade para ser real deve ser livre. O voto deve ser um instrumento de opção consciente, pois um ser humano só é livre verdadeiramente quando tem sua vontade e consciência respeitadas. E só um ser humano livre é capaz de, amanhã, analisar, opinar e reivindicar ações não realizadas pelo Poder Público.
Nossa sociedade precisa buscar um amadurecimento moral, exercitar um proceder menos individualista e mais social. Isso que precisa ser trabalhado nas campanhas de divulgação realizadas pelo governo, de forma real e direta, sem fingir que não existem estas mazelas.
O voto será nossa esperança de mudança somente quando for algo realmente legítimo, e a legitimidade do voto só acontece quando ele materializa nossa vontade real, consciente e íntima, caso contrário seguiremos na mesma hipocrisia que tanto tem caracterizado as campanhas oficiais.
Luciana G. Rugani
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