O palestrante Leandro Karnal é historiador e professor da UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas.
Fonte: site revide.com.br
Este pequeno vídeo traz trecho de sua palestra em que ele fala sobre amizade x cumplicidade. Vale a pena assistir. E logo abaixo segue texto da jornalista e empresária Isabel de Farias, onde ela faz uma breve e precisa explanação sobre o tema e sobre o vídeo em questão:
https://www.youtube.com/watch?v=Ia5cU8SOvxM
Você tem cúmplices ou amigos?
Em tempos de delação premiada e da desconfiança aflorada em tudo e todos, encontro nas redes sociais um vídeo do historiador Leandro Karnal, que cita o Discurso da Servidão Voluntária, de Etienne de La Boétie, um filósofo e humanista francês, nascido em 1530 e que viveu apenas 32 anos.
Esse discurso foi elaborado após a derrota do povo da França contra o exército e fiscais da monarquia, que estabeleceram um novo imposto para o sal. À época, no século XVI, o texto soou como um hino à liberdade.
“Não cabe amizade onde há crueldade, onde há deslealdade, onde há injustiça. Quando os maus se reúnem, fazem-no para conspirar, não para travarem amizade. Apoiam-se uns aos outros, mas temem-se reciprocamente. Não são amigos, são cúmplices”, escreve La Boétie no discurso. E, mais de 500 anos depois, tenho convicção de que esse pensamento certamente vale para os dias de hoje.
La Boétie tinha como seu melhor amigo outro filósofo, o Michel de Montaigne, que, em seu livro “Ensaios”, escreveu sobre a amizade dos dois. Na obra, Montaigne aborda de tudo, como se realmente fosse uma conversa com um bom amigo. Para mim, a beleza do texto é entender que somos percebidos pelos olhos dos outros, mas que pouco olhamos para dentro de nós mesmos. E voltar o olhar para nosso interior é fundamental para criarmos mais empatia com quem está do lado. Precisamos nos compreender para entender o mundo, pois para onde vamos levamos nossa mente e nosso coração. Lugar nenhum será adequado se não estivermos em paz com nós mesmos. E nos adequarmos internamente nos permite criar laços ainda mais duradouros e saudáveis.
É difícil encontrar alguém com quem a gente se identifique por completo e com quem tenhamos prazer em dividir alegrias, angústias e sofrimentos. Às vezes, ficamos distantes de pessoas que encontramos por disputas sem nenhum sentido. Uma vida sem amigos é vazia, é desperdiçada.
Para La Boétie, essa amizade verdadeira só existe entre os éticos e bons. Os maus possuem temores, têm cúmplices, e se desesperam ao pensar o que pode ser feito contra eles. Quem está do lado pode ser sempre uma ameaça. Fato é que viver sob suspeita, desconfiando de tudo e todos, não é a vida mais tranquila e prazerosa que podemos ter.
Como quase tudo, ter cúmplices ou amigos é uma escolha de cada um. É fruto de um cultivo diário, entre relacionamentos e atitudes que temos. O resultado, a vida que levamos, é uma reação às nossas ações. Afinal, como dizem, o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória.
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