Minha coluna de hoje no jornal "Diário Cabofriense". Abaixo da foto, segue o texto para mais fácil leitura:
Uma amiga compartilhou comigo um texto lindo, muito emocionante, intitulado “Para quando eu me for”, de autoria desconhecida.
O texto conta a história de um pai que morreu jovem, mas antes de partir deixou várias cartas para serem lidas por seu filho, se assim o desejasse, nos mais relevantes acontecimentos futuros de sua vida. E uns cinco dias após receber esse texto, leio no jornal “O Globo” uma matéria contando a história real de uma mãe americana, com câncer terminal, que fez o mesmo com sua filha. Foi a forma que encontraram de se manterem presentes em sentimento, ainda que não fisicamente, durante toda a vida dos seus filhos.
Essas cartas foram escritas, tanto na ficção quanto na realidade, por pessoas com doença terminal. Mas, se pensarmos bem, qual a diferença que há em relação à certeza da morte que um dia virá para qualquer um de nós? A diferença é que, no caso delas, essa certeza se faz um pouco mais clara em relação ao tempo que resta. Digo “um pouco mais clara” porque ainda assim a situação pode mudar, pois em termos de atuação divina nos é impossível afirmar que algo se dará neste ou naquele momento. Muitas vezes, quantas pessoas em plena atividade e com saúde perfeita partem bem antes daqueles portadores de males incuráveis; quantos jovens e crianças partem bem antes de idosos com seus 90 e poucos anos.
Ler estes dois artigos, tanto o texto quanto a reportagem, me fez pensar no quanto às vezes nós seguramos as palavras, guardamos a manifestação de sentimento para uma ocasião especial ou simplesmente nunca o manifestamos. Quantas vezes nos tornamos somente presença física, sem a presença de alma, de vontade, de sentimento. Quanto tempo que desperdiçamos sem vivermos em sintonia com nosso querer. Quantas vezes nosso orgulho nos leva a calarmos nossos sentimentos, ou a camuflá-los por medo ou receio de abrirmos nosso coração. E qual a porcentagem que a mera “obrigação” representa em nossas vidas? Quantos momentos de nossas vidas que vivenciamos por pura obrigação, sem nenhuma conexão com nossa alma? Claro que há obrigações que o dever nos impõe, há também obrigações sociais as quais precisamos cumprir. Mas o quanto será que destinamos de nossas vidas para estes momentos? Muitos passam às vezes uma vida inteira de obrigações e só quando chega uma situação de fragilidade ou perda é que se dão conta do quanto deixaram passar, do quanto realmente não viveram.
O fato é que não sabemos o momento de nossa partida, não temos controle total de nossas vidas em relação ao tempo que nos resta. Escolhemos confiar na opção de que permaneceremos aqui fortes e saudáveis, por muito e muito tempo, e nossa escolha certamente nos ajudará nos cuidados que deveremos ter para alcançar este objetivo. Fazemos nossa parte para isso, mas a realidade é que isso não nos torna seres humanos infalíveis e seguimos frágeis perante as determinações daquilo que não podemos controlar, e que se chama destino.
Então penso que vale a pena querermos mais, além de escrevermos nossas cartas para o futuro. Presença de verdade, vivermos o que fala alto à nossa alma, manifestarmos o sentimento sem medo de parecermos ridículos. Abrirmos mão de nosso orgulho para tomarmos de verdade as rédeas de nossas vidas. Seres imperfeitos vivendo a perfeição da plenitude de ser! O presente é o tempo de que dispomos para viver, para sermos verdadeiramente quem somos em essência. Não vale a pena passá-lo em branco e deixar para vivê-lo amanhã. Talvez amanhã o único tempo de que disponhamos seja somente para escrevermos nossas cartas.
Luciana G. Rugani
Muito lindo este texto...
ResponderExcluirObrigada, amigo! Abraços
ExcluirMuito verdadeiro seu texto, a única certeza que temos é que tudo é transitório e todos partiremos, cabe a nós procurar fazer o melhor enquanto estivermos aqui por nós e a quem pudermos ajudar. Excelente análise.
ResponderExcluir