Minha coluna de hoje no jornal "Diário Cabofriense". Abaixo da foto, segue o texto para mais fácil leitura:
Venho hoje trazer para vocês uma história que é, em si mesma, um chamamento para que tenhamos maior interação com a natureza, de forma que sejamos mais partícipes do que observadores.
Acompanho, virtualmente, há dois anos, a trajetória do amigo Pablo Bucciarelli, um apaixonado pela Serra da Mantiqueira, conjunto de montanhas que se estende pelos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A serra é a principal fonte hídrica destes três estados, e tem sofrido muito com os processos de desmatamento e mineração.
Pablo foi entrevistado no programa "Encontro", da Fátima Bernardes, no dia 29 de maio, ocasião em que pudemos conhecer mais detalhes de sua última grande aventura, em fevereiro passado, quando cruzou sozinho, correndo, 397 quilômetros da serra no trajeto chamado Transmantiqueira, em apenas 6 dias e cerca de 18 horas de sono somente. Em 2013 lembro bem quando ele fez este mesmo percurso com seu amigo Pedro Alex, mas desta vez ele resolveu ir sozinho, contando com o apoio somente de amigos que vivem na serra. Adepto do montanhismo, Pablo busca em suas aventuras muito mais do que a superação de recordes. Ao unir a atividade que ama (montanhismo) com o local pelo qual é um apaixonado (Serra da Mantiqueira), Pablo encontra seu verdadeiro eu, conecta-se com o Divino, com o Sagrado que há em seu interior. Ele nos conta que essa conexão se dava nos momentos mais difíceis da caminhada, e que era assim que conseguia mais força para prosseguir com afinco. E, além disso, Pablo busca contribuir, através do que mais gosta de fazer, com a divulgação dessa região tão rica e importante para a manutenção de nossas vidas, chamando para a necessidade de cuidarmos para que não se permita mais tanta destruição de nossas matas e nascentes.
A natureza contém um poderoso manancial de energias curadoras e fortalecedoras. Quando temos verdadeiramente amor por seus espaços e nos dedicamos de coração ao seu cuidado e proteção, ela nos responde com a multiplicação de recursos em nosso benefício. Essa conexão de que Pablo nos fala só é possível porque ele se abre à percepção plena da natureza, não superficialmente apenas, mas sim se aprofundando no seu conhecimento, interessando-se por entender e respeitar seus ciclos e seu ritmo. Ali ele se sente parte da natureza, recebe dela a energia necessária para continuar, mas, por outro lado, ao chamar a atenção para a importância da preservação desta riqueza verde, devolve à natureza, em forma de cuidado e amor, a energia recebida. Ele percebe que junto à natureza formam uma unidade. Nessa completa interação homem-natureza, acontece o despertamento da consciência, que é quando o ser compreende que tudo o que se faz no ambiente em que se vive repercute de alguma forma no outro, sejam pessoas ou a própria natureza. Há ali o predomínio do "sentir" sobre a "razão", algo difícil de traduzir por palavras.
A experiência de Pablo também me fez refletir no quanto ela se parece com a trajetória de nossas vidas em busca de nossos sonhos. Seria a natureza mais uma vez nos ensinando a caminhar? Os obstáculos enfrentados por Pablo, os momentos em que entrava em pânico e pensava "o que estou fazendo aqui", o caminho rústico, pesado, e a vontade firme de prosseguir, podem muito bem ser comparados às nossas vidas.
Quando projetamos nossos sonhos e seguimos o caminho de incompreensões, de adversidades ou de descrença por parte dos que cruzam nossos caminhos, do encontro com a realidade palpável e imperfeita das relações duras e frias, e, ainda assim, seguimos em frente com o coração livre e feliz, simplesmente por sermos capazes de caminhar e de buscar, não haveria aí uma similaridade com a caminhada de Pablo?
Essa experiência do amigo Pablo nos serve como um chamado ainda mais forte para interagirmos de forma mais profunda com essa natureza linda que temos em Cabo Frio, utilizando os recursos que temos em mãos para colaborarmos no desenvolvimento da consciência ambiental, no despertar desse "sentir-se parte do todo". Além disso, é um chamado para caminharmos sempre, mesmo que sejam caminhos frios, duros e cheios de obstáculos. Nunca devemos desistir. Alinhemo-nos com o espírito da natureza, captemos sua essência de vida, busquemos seu equilíbrio e força. O caminho talvez não se faça menos duro, mas com certeza o caminhante estará mais apto a caminhar.
"Sentir a natureza penetrar no seu espírito, sentir a emanação de energia da terra dentro de suas veias, sentir o fluido dos rios nas suas têmporas, talvez seja isso... talvez seja uma simbiose entre a Terra e o Homem que torna tais efeitos possíveis. Quando faltou matéria prima do Homem, foi a Terra que sorveu a função de carregar mais balas no cartucho e disparar para o centro do alvo" (Pablo Bucciarelli)
Luciana G. Rugani
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