Domingo passado li uma matéria que contava a história de algumas pessoas que depois de aposentadas resolveram eleger outra cidade como moradia e se dedicaram a outras tarefas por opção.
Isso me fez lembrar um programa que passou na TV a um tempo atrás, mas cuja abordagem parecia mais uma encomenda governamental para derrubar a ideia de aposentadoria. Não que a matéria deste domingo tenha tido essa abordagem, de forma alguma. Até pelo contrário, pois ela trouxe exemplos de pessoas que se aposentaram e optaram por uma cidade diferente e por realizarem tarefas com as quais se afinizaram. Essa matéria me fez refletir justamente no contrário que o programa de TV relatava.
A aposentadoria não significa que o ser se tornará inativo. E ter atividades não significa somente atividade remunerada ou emprego. É o que tenho visto acontecer com alguns conhecidos que recentemente se aposentaram: tornaram-se mais ativos e animados, pois agora dedicam-se a tarefas por eles escolhidas, dão asas à sua criatividade e produzem belíssimos trabalhos.
Passamos a maior parte de nossa vida de adultos trabalhando como empregado em alguma empresa, enfrentando trânsito terrível no dia a dia, e sem sobrar tempo nenhum para fazermos aquilo que realmente temos vontade, ou até mesmo sem tempo para nos autodescobrirmos em relação a isso. Podemos ter vontade de escrever, pintar, cantar, lidar com artes, em geral. Ou também de realizar trabalhos voluntários em áreas que nos são simpáticas. E não temos tempo para descobrir aquilo que realmente sentiremos prazer em realizar. A aposentadoria é uma oportunidade para esse autodescobrimento. Nossa criatividade só desperta com a liberdade e gosto. Liberdade de poder fazer algo que se tem vontade, e não somente coisas por obrigação.
O governo federal deveria antes buscar combater intensivamente a corrupção crônica que desvia rios e rios de dinheiro ao invés de ficar falseando argumentos para incentivar que o cidadão continue sendo mera peça produtiva, preservar ao máximo o direito do trabalhador a se aposentar dignamente, pois ele tem esse direito. Ele tem o direito de se aposentar com saúde e idade que o permita ainda fazer muito por si, fazer o que tiver vontade e desbloquear a criatividade há tanto sufocada pela pressão do stress diário. Para isso ele contribuiu anos a fora, trabalhando para o governo ou para um patrão da iniciativa privada.
É preciso valorizar mais a vida em si mesma. A vida é uma breve oportunidade que temos aqui de nos conhecermos ainda mais, descobrirmos nossas habilidades e talentos. E viver não deve se resumir a buscar meios de sobrevivência. Viver vai muito além disso, e todos têm direito de viver plenamente. Este deveria ser o princípio básico norteador das decisões e políticas governamentais, e a busca incessante de proporcionar isso a todos os cidadãos deveria ser o objetivo maior da administração pública.
Luciana G. Rugani
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