Filme excelente que recomendo a todos: "O Discurso do Rei". Gosto muito dos filmes que, além de nos divertir, nos permitem extrair alguma mensagem de aprendizado para nossas vidas. E filmes desse tipo sempre podem ser analisados por diversos ângulos, de forma que percebemos, dentro do mesmo enredo, várias mensagens diferentes.
"O Discurso do Rei" trata da história verdadeira do rei inglês George VI que tinha gagueira, distúrbio da fala que não lhe permitia discursar ou comunicar-se com facilidade. Ele encontra o austríaco Lionel Logue, que não possuía títulos ou diplomas, mas era um autodidata terapeuta vocal.
O que mais me chamou atenção no filme foram os vários lances onde a humanidade dos personagens é contrastada com os protocolos e convenções da realeza. Foram várias cenas, entre elas: a espontaneidade de Lionel ao sair do banheiro para receber a esposa do Rei George VI; Lionel decidindo chamar o rei por um apelido, sentando-se na cadeira do líder da igreja anglicana; entre outras. E mais forte ainda esse aspecto de humanidade, em dois pontos do filme: primeiro, quando na "terapia" do rei com seu amigo, percebe-se o medo e o bloqueio gerado desde criança na personalidade do rei. O filme nos mostra então a realidade mais certa de que por baixo de todo aquele protocolo real, de toda aquela aparência de fortaleza inabalável, há um ser humano com uma força incrível dentro de si, mas que o medo de infringir o reino de regras, devido ao ambiente opressor e bloqueador em que foi criado, fez dele um ser bloqueado, aparentemente frágil e inseguro. Aos poucos, no desenrolar do filme, quanto mais o rei se aproxima da realidade de que ele é antes de tudo um ser humano, mais sua força vai desabrochando, a segurança vai voltando à sua postura e à sua fala.
Outra questão muito interessante é que os membros da igreja anglicana investigam toda a vida de Lionel e descobrem o que ele nunca escondeu, mas que nunca ninguém o havia perguntado: ele não tinha diplomas e títulos. Não era um profissional renomado da fala. Apenas detinha o conhecimento e experiência nascidos da observação, do estudo por si próprio e de sua vivência. Tentaram derrubá-lo através dessa descoberta, mas foi inútil. Ele, com toda sua simplicidade, espontaneidade e sabedoria, foi quem conseguiu fazer com que o rei tomasse as rédeas de si mesmo e passasse a se comunicar com maior fluência, o que diversos doutores de oratória não conseguiram. A sua disponibilidade ao contato com o outro, sua percepção do outro por inteiro e o não-estranhamento, ou seja, a aceitação do lado humano, imperfeito e tão diferente da aparente perfeição pregada pela realeza, tudo isso propiciou o início de uma grande amizade, amizade esta que foi o suporte emocional que levou ao desabrochar da verdadeira essência do rei, sua coragem e segurança há tantos anos sufocadas pelo rigor da realeza.
O rei George VI conseguiu fazer seu mais importante discurso, quando da entrada da Inglaterra na 1ª guerra mundial, e a partir daí foi adquirindo fluência e segurança na fala a cada dia.
É o real, o verdadeiro e o simples suplantando o mundo de máscaras, aparência e ilusão.
Ótimo filme, ótimos atores. Foi o grande vencedor do Oscar 2011, ganhando, merecidamente, as estatuetas de melhor filme, melhor diretor (Tom Hooper), melhor ator e roteiro original. Vale a pena rever!
Luciana G. Rugani
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