E as cortinas se fecham para mais um grande artista de nossa música brasileira. O show acabou, o palco está vazio. Aquela voz que atingia direto os nossos corações com canções plenas de amor e poesia se calou. Emílio Santiago se foi.
Custei a acreditar quando li a notícia na internet hoje cedo. Somente três dias antes de sofrer um AVC, o cantor compareceu ao programa "Encontro", da Rede Globo. Cantou, sorriu, conversou. Com todo ânimo, cheio de planos e alegria.
Esse fato mais uma vez me levou a pensar em como é breve nosso instante aqui na Terra! Somos parte de uma engrenagem universal e infinita, que tem seus porquês desconhecidos para nós. Podemos relativamente controlar nosso carro no trânsito, nosso trabalho, nossos exames de saúde preventivos, mas não podemos controlar nem imaginar quando chegará aquele instante do basta, o "The End" do livro da vida, ou a passagem, a transformação. Quanta saudade antecipada me bate no coração!! Saudade do já vivido, e saudade dos que ficarão ou partirão.
Ainda que nos transportemos para outras dimensões, esta etapa, esta vivência com suas peculiaridades, com seus próprios momentos, esta não voltará. Se algumas vezes estranhamos uma mudança de emprego, uma mudança de país, imagina só como não estranharemos esta mudança maior...
Penso agora no tempo atual. Por que não haver mais compreensão, mais aceitação do outro... por que fechar os corações a sentimentos, a amizades, por que fechar as portas para aqueles que chegam até nós compartilhando seu ser, trocando experiências. Por que se fechar em "se's", "porém's", "talvez"... se vivemos aqui algo que pode ser reduzir somente a um átimo. Para que tanta empáfia reduzindo a amplitude de nossa já tão curta e breve estada por aqui? Por que não corações abertos ao diferente, ao estrangeiro, ao possível amigo que a vida fez cruzar nosso caminho?
É impressionante o quanto apequenamos nossa passagem por aqui. Nossa sociedade opressiva, ditando padrões, comportamentos... Protocolos, etiquetas, normas sociais que reforçam preconceitos. Relações por conveniência e interesse, aproximação ou rejeição de alguém conforme o meio em que vive, quando o que deveria prevalecer seria a afinidade sentida ou percebida após dar-se a chance de relacionar.
Nosso instante é breve. Somos breves. Somos passageiros em viagem no trem da vida. Mas infelizmente somos cegos a esta realidade. Sabemos pela razão, mas nosso coração teima em não aceitar e nós teimamos em continuar com nossos preconceitos, com nosso afastamento do outro simplesmente porque o outro não pensou ou agiu como nós agiríamos, ou simplesmente por medo da aproximação do outro. Não perderemos nada em abrirmos nosso coração para que o outro chegue, o que temos aqui nos é dado por empréstimo e assim será enquanto tivermos merecimento para possui-lo. Não há que temer e isolar aproximações. E cada um é livre pra pensar, dizer e agir diferente, isso não deve ser empecilho para relacionamentos.
Paradoxos: a brevidade da vida pode fazer com que nossa viagem por aqui seja mais intensa e mais verdadeiramente vivida, desde que compreendamos nossa posição de relativo, ou pouco controle mas, ao mesmo tempo, com um poder incrível de transformar e eternizar. Jogando fora os melindres, os medos, os receios de perder espaço para o outro e caminhando leves, com peito aberto ao que ou a quem vier, com coragem, alegria, aceitação e acolhimento, estou certa de que, quando chegar nosso momento, teremos a impressão e a certeza de termos vivido muito mais do que vivemos. E, assim, levando conosco sentimentos vividos ao invés de regras sociais, bloqueios e blindagens impeditivas de um real viver, teremos realmente eternizado nossas relações e nossas experiências.
Só nos resta então transformarmo-nos...
Luciana G. Rugani
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