O texto abaixo é muito interessante pois trata do conceito de cidadania e sua prática, e se encaixa muito bem com o conceito de cidadania sobre o qual falei no meu artigo, postado aqui no blog, "Cidadania nos dias atuais".
Neste texto, o foco é o exercício da cidadania na proteção do meio ambiente. Muito válida a abordagem e muito útil para impulsionar a conscientização ambiental. Enquanto leitora, eu só ampliaria o leque da reflexão sobre o exercício de cidadania a que se refere o texto expandindo-o também para todos os demais setores de organização da sociedade. A postura cidadã deve ser ativa, constante e diária. Respeito com o patrimônio público, cumprimento dos deveres, visão coletiva, contribuição individual para a melhoria do meio em que se vive, acompanhamento, fiscalização e atuação na defesa dos direitos: isso é cidadania.
Luciana G. Rugani
Cidadania – Ética – Meio Ambiente
por Luiz Antonio Batista da Rocha –Eng. Civil – Consultor em Recursos Hídricos – Auditor Ambiental – rocha@mdbrasil.com.br
Os detentores de cargo público não são donos da Nação, porém mandatários do povo. Como tais precisam prestar contas de seus atos. Os organismos estatais existem para atender ao interesse coletivo, não ao interesse grupal ou setorizado. Qualquer pessoa do povo está legitimada a defender o meio ambiente, por preceito expresso da Constituição.
Em Ética Geral e Profissional, José Renato Nalini declara com firmeza que “uma ética ambiental dispensa notáveis conhecimentos da matéria, ou aprofundamento científico ecológico. Apenas requer vontade, alimentada por uma consciência sensível”.
Qualquer pessoa que sinta em si o desconforto de assistir impassível à destruição da natureza poderá servir-se de largo instrumental que só depende de sua vontade para ser operacionalizado.
Atuar na defesa do ambiente é uma explícita dimensão da cidadania no terceiro milênio.
Desde a célebre expressão da alemã Hannah Arendt teórica política, muitas vezes descrita como filósofa, apesar de ter recusado essa designação, – “cidadania é a consciência que o indivíduo tem do direito a ter direitos”, inúmeras formulações do termo foram propostas.
Cabe lembrar a feição democrática daquele cidadão disposto a enfrentar interesses dos “poderosos” para auxiliar na defesa de um patrimônio que não é só dele, mas é bem comum a todos. Não apenas os seus contemporâneos, mas também dos filhos e netos, homens do amanhã.
Na defesa do meio ambiente encontra-se um saudável exercício da cidadania democrática. João Carlos Quartim de Moraes em A democracia: história e destino de uma idéia, afirma que "Cidadania só cria raízes num povo ao longo da experiência coletiva da aprendizagem do exercício da cidadania que é lenta e muitas vezes turbulenta. Mas insubstituível, tanto no que se refere ao voto quanto a formas superiores da participação democrática, como o autogoverno local e as múltiplas formas de autogestão social. Nisso parece-nos consistir o essencial de sua força enquanto valor ético-político. É muito restrita essa noção baseada na capacidade de votar e ser votado”.
Para exercer sua cidadania ética, o indivíduo tem de realizar mais. Intervir decisivamente em inúmeras instâncias. Alargar o território do interesse coletivo, rompendo a já derruída barreira entre público e privado.
Essa experiência de exercício da sociabilidade contemporânea e de conferir eficácia às instituições e equipamentos públicos pode traduzir-se em posturas de tolerância zero para com propostas destrutivas e mesmo com as aquelas aparentemente flexibilizadoras, mas que disfarcem mediato comprometimento dos recursos naturais.
Cada pessoa pode, no universo em que habita contribuir para tornar o mundo melhor. Esse é um exercício cívico, um exercício de cidadania. Dispensável a vocação heroica. Basta acreditar na causa. E para crer, basta convencer a vontade. Assim se constrói a democracia.
Sem participação da cidadania, não há necessidade de regime democrático. A luta pela preservação do ambiente pode ser um compromisso de vida. Justificar uma existência. Dar-lhe qualidade e intensidade.
É um projeto permanente, que transcende os interesses imediatistas e egoísticos, para alcançar até as mais longínquas gerações. Nem estaremos aqui, mas teremos garantido uma vida melhor à posteridade. A vivência democrática dá sentido a qualquer vida. Aung San Suu Kyi, Prêmio Nobel da Paz de 1991 assevera que: “Mesmo sem saber o que acontecerá, temos de seguir adiante da melhor maneira possível, sem desvios, no rumo certo.
Mesmo sem saber o que acontecerá, devemos participar desta luta. Todos entramos nela por
acreditar que é uma luta justa. Se me perguntarem se chegaremos à democracia... responderei o seguinte: não pensem no que acontecerá ou não acontecerá. Continuem simplesmente fazendo o que acham certo. Mais tarde, surgirão por si mesmos os frutos do que fazem agora. Nossa responsabilidade é fazer o que é certo”.
Posso não ser capaz de sozinho, salvar a Amazônia. Tenho condições, porém, de salvar uma árvore.
Aquela que é maltratada defronte à minha casa e a cuja destruição assisto impassível. Cada qual encontrará a melhor forma de atuar para que o mundo não seja, num futuro não remoto, um deserto fuliginoso e morto.
Há um pressuposto válido, suscetível de estimular a atuação ambientalista: não posso compelir o governo a fazer o bem ambiental, mas sou capaz de impedi-lo de praticar o mal ecológico.
Simplesmente maravilhoso texto para reflexão sobre cidadania e o que cada um de nós pode fazer em benefício do planeta e das gerações futuras. A frase que mais me chamou a atenção e posso afirmar que é exatamente assim que me sinto: “Mesmo sem saber o que acontecerá, temos de seguir adiante da melhor maneira possível, sem desvios, no rumo certo.".
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